quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

VIVENDO E APRENDENDO (2)


O avião era pequeno , pouco confortável , mas atendia plenamente aos nossos propósitos . Logo no ínicio da viagem , Herbert percebeu que estava com uma gravata avermelhada . Ficou incomodado e ao notar que minha gravata era escura , não teve dúvidas : pediu que eu a trocasse com ele . E trocamos de gravata . Em determinado momento , Lunardelli estendeu a Lacerda um calhamaço datilografado e explicou que se tratava de um trabalho que pretendia editar e que gostaria que saisse com seu prefácio . Lacerda agarrou as folhas , leu-as em poucos minutos e , em também poucos minutos , escreveu o prefácio no verso de uma das páginas . Lunardelli ficou encantado .
Depois foi a minha vez . Disse a Lacerda que havia concluido um artigo áspero e severo , porém justo , denunciando atos praticados por Abelardo Jurema , então ministro da Justiça de Jango . E confessei que estava em dúvida se deveria ou não publicá-lo . Ele não perguntou do que se tratava . Olhou-me dentro dos olhos , colocou a mão em meu ombro e disparou : " Waldo , se você tem dúvidas sobre a veracidade de alguma informação contida em seu artigo , não o publique . Vá primeiro dissipar as dúvidas . Mas se você não tem dúvidas , mas tem medo , também não o publique . Neste caso , porém , abandone a profissão . O jornalismo não foi feito para covardes" . Nem precisou dizer mais nada . Dois dias depois meu artigo estava estampado na primeira página da "Gazeta Mercantil" , onde eu assinava uma coluna diária intitulada "Waldo Claro Denuncia" . Era uma espécie de editorial político num jornal essencialmente econômico . Esses arroubos da juventude -- que me acompanham até hoje -- custaram-me vários e deliciosos processos .

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