sexta-feira, 5 de março de 2010

E A BRISA O LEVOU


O Brasil chorou ontem a morte de Johnny Alf .Tinha 80 anos e dele guardo recordações preciosas de minha juventude . Compositor , cantor e pianista , êle era considerado o precursor da Bossa Nova no Brasil e o Novo Frank Sinatra do mundo . Esbanjava talento . Calmo , tímido , modesto e econômico nas palavras , sabia entretanto granjear amigos e conquistar o público . Sem pedir favores . Sem ceder em suas convicções . Nascido no Rio de Janeiro como Alfredo José da Silva , só americanizou o nome por sugestão de uma amiga e com a intenção de internacionalizar-se . Aos 14 anos , com amigos de Vila Isabel , já dava shows e era aplaudido na famosa Praça Sete , que hoje conhecemos como Praça Barão de Drummond . Até que , pelo talento e genialidade , transformou-se numa das maiores personalidades do nosso cenário artístico e musical . Conhecí Johnny Alf no início da década dos 60 , quando ele já cantava na Boite Baiuca e no fechadíssimo Bar Michel . Tinhamos um grupo de boêmios na redação de "O Estado de S. Paulo" e, todas as noites , encerrada a edição por volta da 1 hora da manhã , atravessávamos a Rua da Consolação em direção ao centro boêmio , onde pontificavam as boites Baiuca , Cave , Champanhota , Chão de Estrelas , Canto Terzo e tantas outras .Alí purgávamos os pecados até o sol nascer . A essas alturas , composições de Alf como "Eu e a brisa" , "Chega de saudade" ,"Eu e o Mar" , "Olhos Negros" , "Falsete" , "Rapaz de Bem" e tantas outras ,já moravam na boca do povo . Mas foi no Canto Terzo , cantinho boêmio da Rua Major Sertório , que o conhecí . E onde tomamos porres homéricos , ouvindo a cantora Marilú e vibrando com Azeitona e seu contrabaixo . Muitas vezes o proprio Johnny dava uma canja e comandava o piano .Era quando eu , encorajado pelo whisky , juntava seis ou sete copos na mesinha ao lado e , com a ajuda de dois pentes , fazia a batucada . Johnny morria de rir e elogiava minha versatilidade . Pura bondade . Guardo com carinho uma foto de fim de noite na qual êle aparece sorridente ao lado de Claudete Soares , Alaíde Costa , Mitzi , o jovem cantor Marcelo e eu .Com os olhos esbugalhados . Era março de 1969 . Velhos tempos e velhos amigos que a brisa vai levando , um por um ,em direção a outras moneras ...

3 comentários:

Anônimo disse...

Que triste notícia, mas bom saber dessas suas noitadas. Com a memória que lhe é peculiar, quantas não haverão. Vai contando e se possível ILUSTRANDO com imagens como a citada! Isso faz parte da memória de uma cidade que já não lembra mais desse tempo! E faz tão pouco tempo!

Anônimo disse...

Waldo,

um amigo nosso, escultor, e dono de um blog, inventou, como Bahiano que é, um nome para o sidebar dos blogs. ( Sidebar para quem não sabe é essa parte à direita, ou a esquerda, como é no seu caso, onde ficam as informações genéricas da página do blog!) LADINHO.
Adotamos, e diáriamente, ou quase, escrevemos alguma coisa no LADINHO do VARAL para chamar atenção dessa parte pouco lida dos blogs! Hoje o texto fala de você!
Bom fim de semana!

Este ladinho passou a ser um bom exercício de criação diária! Escrever, ainda que um bilhete, todos os dias, é um hábito salutar. Já disse mil vezes e repito hoje, da inveja que sentia do Waldo Claro, quando sentava em frente a uma máquina de escrever elétrica, e sem nenhum rascunho prévio, de um golpe, e com os 10 dedos da mão, produzia seu texto prara os jornais com quem colaborava diariamente. Rubem Braga, Luiz Martins e outros também eram objeto de minhas invejas! Ontem falei de ciúme, hoje de inveja! Que ser menor sou eu.

Waldo Claro disse...

Caro Eduardo : obrigado por suas palavras . Comosempre , V. continua modesto . Ainda não sei trabalhar direito no computador e menos ainda como ilustrar meus textos. Vou pedir ajuda . Continue me fazendo feliz com seus comentários . Abraços meus .